Fantasias sobre a maternidade que precisamos desfazer
O corpo volta logo após o parto, só existe um jeito certo de educar, veja por que essas e outras crenças não passam de ilusão
Desde muito jovens, homens e mulheres são bombardeados por uma série de fantasias sobre a maternidade e a paternidade. E acreditar nelas não é nada bom. “Basicamente porque se você acredita em perfeição e se depara com a realidade, você terá um período em que se sentirá incapaz, frustrada e impotente”, explica a psicóloga Vera Iaconelli, diretora do Instituto Brasileiro de Psicologia Perinatal – Gerar e doutora em psicologia pela Universidade de São Paulo.
Ficar com os pés no chão ajuda a encontrar aquilo que é possível dentro da criação dos filhos. “A maternidade é uma das tarefas mais imperfeitas que existem. Está longe de ser perfeita e está tudo bem, simplesmente não existe pais ou filhos perfeitos”, destaca Vera Iaconelli.
Por isso, listamos as principais fantasias sobre a maternidade e a paternidade e explicamos por que é importante deixar de acreditar nelas. Confira:
- Maternidade é uma felicidade completa e constante
Claro que se tornar mãe ou pai desperta uma grande felicidade. Porém, a maternidade ou paternidade também desperta outros sentimentos, e isto é completamente normal e esperado. “A chegada do filho também traz muitas perdas, é como crescer, quando se cresce perde-se a infância, mas ganha-se a vida adulta”, explica a psicóloga Vera Iaconelli, diretora do Instituto Brasileiro de Psicologia Perinatal – Gerar e doutora em psicologia pela Universidade de São Paulo.
Sentir certa tristeza ao longo da gestação e após o nascimento do filho é absolutamente normal. “Em alguma medida é até desejável, significa que os pais estão reconhecendo a dimensão da tarefa que é ser pai e mãe. Eles estão se deparando com várias transformações que tendem a ser vistas com o humor triste, é uma crise de amadurecimento”, diz Vera Iaconelli.
Este humor mais triste é o famoso baby blues, que ocorre com a maioria dos pais. A depressão pós-parto é um outro quadro, mais grave e no qual o homem ou a mulher ficam tão extenuados que não conseguem dar conta dos cuidados com o filho. Esta condição não regride sozinha, ao contrário do baby blues, que regride sozinho. Diante da suspeita de depressão pós-parto é importante entrar em contato com um psicólogo.
- O amor pelo bebê é sempre imediato e nasce pronto junto com ele
De fato, quando o bebê nasce, a mãe e o pai sentem muito amor por este ser pequenino. Porém, é importante entender que o amor pelo bebê é uma construção, assim como foi uma construção o amor pelo seu companheiro, pelos seus amigos, etc. “Ao nascer o bebê é um estranho que você está começando a conhecer”, destaca Vera Iaconelli. Com o tempo, pais e filhos vão se conhecendo melhor e o amor irá aumentar e se fortalecer cada vez mais.
- A mãe e o pai sempre vão saber como cuidar do bebê
Muitos dos cuidados dos pais com o bebê serão na base da tentativa e erro. “Os pais vão mais aprendendo com o bebê do que sabendo de antemão. A questão é que os pais são as pessoas que mais se dedicam a desvendar o enigma do que o bebê precisa naquele momento”, observa Vera Iaconelli. Além disso, o bebê também vai aprender com os pais sobre quais cuidados ele irá receber em cada momento.
- É possível dar conta de tudo
Achar que pode dar conta de tudo em relação aos cuidados com o filho é uma grande ilusão. “Não na história da humanidade não houve nenhum bebê que não fosse cuidado em grupo, sem ajuda. Essa ideia de uma mãe ou de uma mãe e um pai dando conta de todos os cuidados com o bebê é uma fantasia da nossa cultura competitiva, de alta performance. O bebê é um ser social, tem avós, tios, primos, é paciente de alguém. Existem várias formas de cuidados”, destaca Vera Iaconelli. Portanto, nada de acreditar que é preciso dar conta de todos os cuidados com o filho para ser uma boa mãe ou um bom pai.
- É preciso escolher entre ser mãe e ser mulher
Existe uma crença de que com a chegada do bebê, a mulher precisa decidir entre ser mulher, com uma vida sexual, amorosa e profissional, e ser mãe. “Embora o bebê precise de um período de dedicação integral, não vai ser sempre assim. É importante até mesmo para o filho que os pais tenham uma vida independente dele. A ideia de que para ser pai ou mãe é preciso abrir mão da sua vida pelo filho não só é equivocada como traz prejuízos”, conta Vera Iaconelli.
- Existe um único jeito certo de educar
Sabe aquela ideia de que se você fizer daquele jeito é o correto e se fizer de outro não está certo? Bobagem. Cada mãe e pai tem um jeito de educar o filho. “E não há uma forma perfeita de se fazer isso. Isto muda de cultura para cultura, de geração para geração e ninguém chegou a uma melhor forma até hoje”, afirma Vera Iaconelli.
- Amamentar é fácil e sempre uma delícia
Ao contrário do que muitos dizem, amamentar nem sempre é algo muito tranquilo ou prazeroso de se fazer. “Aleitamento materno é absolutamente natural, mas não necessariamente é simples ou fácil”, observa o pediatra Moises Chencinski, criador da campanha #euapoioleitematerno.
As dificuldades para amamentar ocorrem especialmente no começo. É normal nas primeiras mamadas a mãe ter uma certa sensibilidade. A dor ao amamentar também pode ocorrer, mas isto requer uma atenção especial. “A amamentação não deve doer. Suportar a dor é dar oportunidade para que uma lesão se instale. Mude a posição, corrija a pega, não tolere a dor”, explica enfermeira obstetra Cinthia Calsinski.
Lembre-se que amamentar proporciona uma série de benefícios para a mãe e o bebê, por isso, é importante insistir. Veja como superar os problemas mais comuns da amamentação aqui. Uma vez superadas as dificuldades, aí sim, amamentar se torna um grande prazer e algo simples de se fazer.
- O corpo volta rapidamente após o parto
Constantemente as mulheres são inundadas com imagens de famosas que apenas alguns míseros dias após o parto já apresentam a barriga lisinha de volta. Mas é importante deixar claro que estes casos são minoria!
Após o parto, o normal é a barriguinha demorar um tempo para desaparecer. Afinal, o útero aumentou muito durante a gestação e este crescimento ocorreu aos poucos ao longo de nove meses. Portanto, assim como ele demorou para aumentar de tamanho, o útero também vai levar um tempo para voltar ao normal. “Duas semanas após o parto o útero deixa de ser palpável no abdômen. De 4 a 6 semanas o útero regride ao tamanho normal”, explica o ginecologista e obstetra Ricardo Andrade Freire, do Hospital e Maternidade São Luiz Anália Franco.
Um pouco de flacidez na barriga também é normal. “Isso ocorre porque a barriga se distende demais na gestação e a pele não volta. Funciona como um elástico que perdeu a resistência”, explica a dermatologista Christiana Blatter, membro efetivo da Sociedade Brasileira de Dermatologia. É preciso esperar um tempo maior para que a pele retorne ao que era antes. “A pele volta ao normal entre 4 e 6 meses dependendo das características individuais de cada pessoa”, explica Ricardo Andrade Freire.
Quanto aos quilos extras, a expectativa para as mulheres que ganharam entre 9 e 12 quilos na gestação é que leve cerca de seis meses para voltar ao peso de antes. Já quem engordou mais, pode demorar até nove meses para retornar aos quilos de antes da gestação. Caso demore ainda mais tempo para que seu corpo volte, não se preocupe. Lembre-se: você teve um filho, isto gera uma série de mudanças em toda a sua vida, então, por que seu corpo sairia impune? Saiba mais sobre a barriga no pós-parto aqui.