“Nosso bebê foi condenado à morte por decisão da justiça”
A Corte Europeia de Direitos Humanos autorizou o desligamento dos aparelhos que mantém o bebê vivo
Os pais ingleses Chris Gard e Connie Yates estão passando pelo pior pesadelo na vida de qualquer pai ou mãe: perder um filho. E a maneira como eles estão passando por isso torna tudo ainda mais terrível.
O pequeno Charlie Gard de 10 meses foi diagnosticado com uma doença genética rara e terminal quando tinha apenas seis semanas de vida. Trata-se da miopatia mitocondrial, uma condição que causa perda progressiva de força muscular entre outros problemas.
Por causa desta doença, o bebê foi perdendo forças rapidamente e precisou ser internado no Hospital Great Ormond Street, depois de desenvolver pneumonia por aspiração.
A vida do bebê passou a depender dos aparelhos aos quais ele está ligado. Foi então que os pais do pequeno Charlie receberam uma notícia ainda pior. O hospital entrou na justiça para obter autorização para suspender a respiração artificial e os cuidados paliativos, ou seja, parar com aquilo que mantém Charlie vivo. Isto porque os médicos britânicos afirmaram que não existe cura para a doença de Charlie e, portanto, ele deveria ter o direito de morrer com dignidade.
Ocorre que os pais de Charlie tinham esperança de levar o filho aos Estados Unidos onde há uma nova opção de tratamento para sua doença. Eles organizaram uma campanha na internet e conseguiram arrecadar mais de seis milhões de reais para tratar o filho nos Estados Unidos. Mas a justiça britânica também não deu aos pais o direito de tentar salvar o filho nos Estados Unidos.
O juiz Nicholas Francis rejeitou o pedido dos pais de levar Charlie até os EUA, pois o tratamento experimental teria sido ineficaz e teria infligido somente mais sofrimento para Charlie.
Após apelarem sem sucesso em inúmeros tribunais para que os aparelhos de seu bebê não fossem desligados, os pais receberam uma terrível notícia da Corte Europeia de Direitos Humanos no dia 29 de junho, último órgão no qual os pais podiam apelar. Esta corte decidiu autorizar o desligamento dos aparelhos que mantém Charlie vivo.
Os aparelhos de Charlie serão desligados em breve, isto iria ocorrer nesta sexta-feira (30), mas os médicos deram mais algumas horas aos pais. “Nós e nosso filho estamos destruído com todas essas decisões. Tiraram nosso direito de decidir se nosso filho vive ou não”, disseram os pais de Charlie em depoimento nas redes sociais.
Além de não poderem mais lutar pela vida de seu filho, os pais também não puderam decidir como ele vai morrer. “Antes quando conversamos com os médicos sobre a possibilidade de sermos obrigados a desligar os aparelhos de nosso filho, estes profissionais tinham nos dado duas opções: desligar os aparelhos e deixar Charlie morrer no hospital ou leva-lo para casa e deixa-lo morrer em casa. Nós tínhamos escolhido que queríamos que ele morresse em casa. Mas agora o hospital nos informou que não podemos mais fazer isso e nosso filho terá que morrer no hospital”, lamentou a mãe Connie em entrevista ao jornal britânico Mirror.
Isto é especialmente triste por causa de uma promessa que os pais haviam feito ao seu bebê. “Deixar nosso bebê morrer em casa era nosso último desejo. Nós dissemos para nosso filho todos os dias que nós iríamos leva-lo para casa. Fizemos essa promessa porque achamos que era a única que poderíamos cumprir e agora até isso nos foi negado”, disse Connie.
O pai de Charlie, Chris, também lamentou a decisão. “Nós queríamos leva-lo para casa, lhe dar um banho e coloca-lo no berço que ele nunca pode deitar por causa dessa doença. Nós não podemos levar nosso próprio filho para casa para morrer”, disse Chris.
Agora, Chris, Connie e o pequeno Charlie estão todos juntos no hospital. “Estamos fazendo memórias que guardaremos para sempre, mas com um coração muito pesado. E o mais difícil é que nosso filho ainda está estável, ele está lutando, ele é um guerreiro”, concluiu Connie.