As emoções do bebê nos primeiros seis meses
Nesta fase o desenvolvimento emocional do bebê é imenso e o papel dos pais é fundamental
Os primeiros seis meses de vida do bebê representam uma fase de grandes mudanças emocionais. “O bebê passa pelas suas primeiras experiências e adquire confiança e segurança no ambiente, através do holding e handling: que é a capacidade da mãe de prover conforto para o corpo do bebê”, explica a psicóloga Gabriella Demarque da Equipe Shantala Neles.
Os primeiros três meses são ainda mais especiais. Este período é conhecido como o “4º trimestre da gestação” ou a exterogestação. “Nesta fase o bebê se acalma quando apresentamos estímulos que permitam que se sinta como se sentiu no tempo do útero: ele fica mais confortável quando está aquecido, sente que o seu corpo tem contorno, como quando está no colo e no sling, é alimentado, como era a todo tempo pelo cordão umbilical, não está em um ambiente com muitas luzes. Os bebês inclusive se acalmam quando ouvem um chiado (conhecido por White Noise), que se remete ao barulho do sangue da sua mãe correndo a todo tempo na placenta e nas veias e quando são embalados em movimentos ritmados (como o são enquanto estão no útero) ”, afirma Gabriella Demarque.
Nos primeiros seis meses o bebê irá reconhecer o mundo por meio dos pais e irá começar seu processo de confiança e socialização com o ambiente.
1º mês
Sentimentos no momento do nascimento
Quando está dentro do útero, o bebê vive em um ambiente estável, com água, temperatura ideal e alimento constante. “No momento do nascimento as sensações corporais extrapolam a capacidade de compreensão e integração psíquica do bebê – geralmente, na cena de parto tradicional, a luz do centro cirúrgico é forte, a sala está fria e o bebê é retirado de perto da mãe para procedimentos de rotina mais ritualísticos do que necessários. Quase nunca estão de fato preocupado com o medo e a dor que o bebê sente com essas experiências, porque existe um senso comum de que o bebê não sente nada. Porém, hoje é cada vez maior a preocupação com a recepção de recém-nascidos: estamos falando sobre formas de conduzir o parto com mais respeito à mãe e ao bebê e com menos intervenções desnecessárias”, diz Gabriella Demarque.
Por isso, o contato pele a pele com a mãe na primeira hora após o nascimento é essencial: os batimentos cardíacos da mãe dão estabilidade aos do bebê, a sua temperatura corporal é regulada pela temperatura da pele da mãe e o início do vínculo se dá nesse momento. “Logo toda a experiência do nascimento pode começar a ser integrada: o bebê se sente seguro novamente no colo e experimenta a sensação de mamar pela primeira vez, de ter a fome prontamente respondida”, afirma Gabriella Demarque.
Necessidade de se sentir amado
No primeiro mês de vida o bebê tem uma grande necessidade de bem-estar físico e comunica isso através do seu corpo. “Quando respondemos a sua demanda e permitimos que ele experience uma sensação de bem-estar física, ele fica satisfeito; se ele tem fome, sente o desconforto e pede através do choro, e nós respondemos, gradualmente ele pode construir as bases para a confiança no ambiente ao seu redor”, conta Gabriella Demarque.
A demanda do bebê diz respeito às primeiras adaptações no mundo: a necessidade de sentir o seu corpo alimentado, aquecido, limpo e amado. “Sim, amado! Os bebês precisam de investimento afetivo. O carinho, o colo, a forma de conversar e o toque dos pais são formas de comunicar-se com o bebê e ele responde se acalmando”, observa Gabriella Demarque.
2º mês
Começa a interagir com os pais
Nesta fase começam as bases da empatia. O pequeno passa a reconhecer e imitar as expressões da mãe. “É a fase em que se iniciam as “brincadeiras do bebê”: ele mostra a língua e a mãe mostra de volta, ele mama e pega no cabelo da mãe, recebe um sorriso e sente-se bem. Sorrir e conversar com o seu bebê é importante desde o início, pois o tom de voz dos pais acalma o bebê”, afirma Gabriella Demarque. Assim, o bebê já tem capacidade de se relacionar como resposta ao investimento afetivo, e em sintonia com a forma como a mãe ou o cuidador principal se comunica com ele.
Explicar para o pequeno o que vai acontecer ao longo dos cuidados e da rotina do dia a dia pode ser uma forma de acalmar o bebê, pois pouco a pouco ele passa a entender o que esperar e se preparar.
3º mês
Gosta de interagir com os adultos
Aos três meses o bebê já gosta de interagir com os adultos. “Com três meses o repertório de interação do bebê com outros adultos já é mais amplo e ele pode demonstrar alegria ao observar a reação do ambiente à sua tentativa de se comunicar! O bebê participa mais da família e interage com olhares, sorrisos e balbucios, e se sente bem ao ser correspondido”, diz Gabriella Demarque.
Sorri para os papais
No início, o sorriso do bebê ainda é um reflexo motor. Assim como mexe os bracinhos e as pernas, também pode fazer muitas expressões faciais. “Com o passar dos dias o sorriso já pode ser observado em bebês como forma de resposta a sensações prazerosas. Pouco antes dos três meses o bebê já sorri como forma de interação com os pais à medida que percebe o efeito positivo do seu sorriso no ambiente”, explica Gabriella Demarque.
Não é mais parte da mamãe
Aos três meses o bebê começa a ter a percepção que ele não é parte da mãe, mas sim um ser diferente dela, muito próximo dela, mas não é parte dela. Ou seja, o bebê tem a percepção do primeiro outro: sua mãe. E isto pode gerar a crise dos três meses, saiba mais sobre ela aqui.
4º mês
Não quer ficar sozinho
Com quatro meses o bebê reconhece a presença dos outros e por isso passa a reagir quando está separado da mãe e pode chorar quando deixado sozinho.
5º mês
Sentimento de medo
Com cinco meses o bebê pode passar a mostrar mais o sentimento de medo. “Nesta fase ele demonstra sentimentos de medo quando ouve barulhos altos ou inesperados, verbaliza, gesticula, chora, sorri e ri para comunicar”, conta o pediatra Jose Gabel, secretário do Departamento de Pediatria Ambulatorial e Cuidados Primários da Sociedade de Pediatria de São Paulo.
6º mês
Sente ciúmes
O bebê pode, desde muito cedo, demonstrar-se incomodado quando a atenção da mãe não está voltada para ele, especialmente durante a amamentação. “Aos seis meses já compreende mais os efeitos e os ganhos que acompanham a forma como se comunica: pode chorar e ficar irritado quando precisa dividir a atenção da mãe”, constata Gabriella Demarque.
Choro não significa tristeza
Ao longo do primeiro semestre é normal o bebê chorar, isto não significa necessariamente que ele está triste. “Estar feliz não significa não chorar nunca. Chorar é a forma do bebê se comunicar e demandar algo do ambiente, pedindo o que precisa. Quando respondemos à sua demanda dentro de um tempo razoável, que ele tenha capacidade de esperar, ele fica novamente satisfeito e calmo. Com o tempo se torna mais independente e constrói confiança e segurança, enquanto a mãe se familiariza com os seus sinais e pode interpretar e responder as suas expressões faciais de desconforto e choro”, diz Gabriella Demarque.