Mãe e médica alerta: ‘1 erro ao dar de mamar fez meu bebê ter atraso mental’
A mamãe e médica Christie del Castillo-Hegyi decidiu contar sua história para alertar pais e mães sobre os sinais de que bebê mamou pouco
A mãe, médica e pesquisadora Christie del Castillo-Hegyi decidiu contar sua história e a de seu bebê em uma carta aberta publicada no site da ONG Fed is Best. Seu bebê acabou desenvolvendo uma grave deficiência intelectual após não mamar o suficiente durante os primeiros dias de vida.
Ela tomou esta decisão para informar e alertar pais e mães sobre os sinais de que o bebê não mamou o suficiente e sobre o que fazer nestes casos. Veja o relato dela a seguir:
“Meu nome é Christie del Castillo-Hegyi e sou uma médica de emergência e pesquisadora da Universidade Brown, nos Estados Unidos. E sou mãe de um menino de seis anos que tem uma séria deficiência intelectual. Eu estou escrevendo porque meu filho desenvolveu esta deficiência devido a uma icterícia neonatal e a desidratação causada por não ter mamado leite materno o suficiente nos primeiros dias de vida.
Devido à má orientação e diagnóstico do pediatra e consultoras em amamentação, meu filho acabou passando quatro dias sem ingerir leite materno e acabou desenvolvendo estes problemas. Desde o que ocorreu com meu filho eu tenho pesquisado sobre o assunto e descobri que existe uma forte relação entre icterícia neonatal, hipoglicemia e desidratação nos primeiros dias de vida com problemas no desenvolvimento. Quero contar minha história, explicar quais são os riscos e o que fazer para evita-los.
Meu bebê nasceu pesando 3.9 kg após uma gestação saudável e um parto normal que não teve complicação nenhuma. Após nascer, meu bebê mamou a cada três horas. Durante todos os dias em que ficamos no hospital, meu filho foi acompanhado por um pediatra e uma consultora em amamentação. A consultora inclusive disse que a amamentação ia bem. Meu bebê fazia a quantidade de cocô e xixi esperada.
No segundo dia, o pediatra diagnosticou que meu bebê tinha icterícia. Ele fez o tratamento com a luz e nós fomos liberados 48 horas após o parto. Neste dia meu bebê tinha perdido 5% do peso desde o nascimento, o que até então estava dentro da normalidade.
Ao chegar em casa as coisas ficaram mais difíceis. Meu bebê ficava nervoso e as mamadas foram ficando cada vez mais longas. Meu bebê chorava até mesmo logo depois de mamar e não dormia!
Fomos buscar ajuda do pediatra cerca de 68 horas após o parto, no terceiro dia. Neste momento, apesar de produzir a quantidade normal de cocô e xixi, meu bebê já havia perdido 15% do seu peso ao nascer. Isto já é bem mais do que a perda esperada! Mas o pediatra não deu atenção a isso e na época nós não recebemos a informação de que ele havia perdido tudo isso de peso.
Meu bebê ainda estava com icterícia, mas o pediatra não fez nenhum exame para ver como o problema estava evoluindo. O pediatra disse apenas que nós tínhamos a opção de ou começar a dar fórmula ou esperar meu leite descer até os dias 4 ou 5 após o parto. Decidimos tentar mais um pouco a amamentação, antes da fórmula.
Após mais um dia de problemas para amamentar, busquei a ajuda de uma consultora em amamentação. Ela então foi tentar retirar meu leite manualmente e depois com a bomba e então percebemos que eu não produzia leite nenhum, nem mesmo colostro! Meu bebê estava passando todos esses dias sem receber alimento nenhum!
Depois disso, nós demos fórmula para meu bebê. Ele finalmente dormiu após mamar a fórmula. Mas três horas depois, nós o encontramos desmaiado. Nós tentamos acordá-lo, ele ficou um pouco mais alerta, mas pouco depois convulsionou. Fomos correndo para o hospital. Foi então que o examinaram e descobriram que ele estava com desidratação e que a icterícia havia piorado muito.
Meu bebê precisou ficar dias internado, mas os médicos nos garantiram que isto não teria sequelas. Na época eu quis muito acreditar nisso, mas não era verdade.
Com três anos de vida meu filho foi diagnosticado com deficiência de linguagem grave, autismo, TDAH, transtorno de processamento sensorial, baixo QI, atrasos finos e motores grosseiros. Mais tarde, ele foi diagnosticado com uma doença convulsiva associada à lesão na área de linguagem do cérebro.
Desde o que aconteceu com minha família, comecei a pesquisar sobre a relação entre a desidratação nos primeiros dias de vida, icterícia e deficiência intelectual e descobri que existem uma série de casos como o do meu filho.
E cheguei à conclusão de que apesar de existir uma série de fatores que podem fazer o bebê desenvolver deficiência intelectual, muitos deles fora do controle dos pais, este é um dos fatores que nós pais podemos controlar e ficar atentos. Nós podemos nos informar e assim garantir que nossos bebês sejam bem alimentados em seus primeiros dias de vida e também ficarmos atentos em relação à icterícia. Por isso, minhas orientações para os pais são:
- Mães devem ser informadas sobre como tirar seu leite/colostro manualmente a fim de confirmar se ela realmente está produzindo leite/colostro. Quando a mãe não está produzindo ou produz pouco leite ou colostros é importante já falar com o pediatra sobre a possiblidade de suplementação com fórmula ao menos neste início;
- Cheque o peso de seu bebê todos os dias no hospital e nos primeiros dias em casa e tenha em mente que o esperado é que o bebê perca no máximo 10% de seu peso ao nascer nos primeiros dias de vida e depois o recupere;
- Caso seu bebê tenha icterícia é importante que os médicos meçam os níveis de bilirrubina no organismo no bebê constantemente antes de liberá-lo para casa, apenas o exame observacional não é o suficiente;
- Fique atenta aos sinais de que seu bebê não está mamando o suficiente e eles vão muito além da quantidade de xixi e cocô. Caso seu bebê esteja chorando de forma inconsolável e mesmo após a mamada continua chorando ou não parece satisfeito, entre em contato com o pediatra. Caso seu bebê não esteja dormindo de jeito nenhum também é um sinal de que há problemas. Diante destes sinais, entre em contato com o pediatra IMEDIATAMENTE.