Samara Felippo denuncia racismo no livro ‘Peppa’, muito usado em creches de SP
Segundo muitos críticos do livro, ele retrata o cabelo crespo, comum entre pessoas negras, de uma maneira negativa
A atriz Samara Felippo denunciou racismo em um livro infantil que é usado pelas creches da prefeitura de São Paulo e por muitas outras creches particulares. Trata-se do livro Peppa.
O livro retrata a história de uma menina branca, mas que tem cabelos crespos. E os cabelos dela são duros ao ponto de sua mãe cortá-los com um alicate.
Ativistas do movimento negro já haviam dito que este livro retrata o cabelo crespo de uma forma racista.
“Imagina uma criança de cabelo crespo lendo esse livro. Você gostaria de ser a Peppa? E essa mãe de Peppa que reconhece na sua filha um cabelo que se corta com alicate?! Quem tem um cabelo forte suficiente para servir como arame para fechar um pacote de biscoito? É um absurdo alguém tratar seus cabelos como uma ferramenta de marcenaria. Que informação estamos passando para essa criança? Que seu cabelo de novo é difícil? Que seu cabelo de novo é ruim? Que seu cabelo de novo é complicado de tratar? Já a Peppa teve que escolher: ou ela ficava com os cabelos lisos e sedosos ou ela ia brincar! Isso é um absurdo! E ai na última página do livro vem o ápice do absurdo: ‘lá se foi o cabelão lindo e sedoso de Peppa! A gente tá falando de autoestima com essa frase? Qual é a moral da história? Que o cabelo de Peppa é o contrário disso! Isso é um absurdo!”, disse a youtuber, mãe e ativista do movimento negro, Ana Paula Xongoni. Você pode conferir o vídeo dela sobre o assunto aqui ou ao final da reportagem.
Em suas redes Samara Felippo, que é mãe de duas meninas negras, falou sobre o racismo presente no livro.
“Como muitos já estão acompanhando saí de uma bolha sem tamanho (ainda estou saindo)
Nasci e cresci inconscientemente racista, machista. Sim, somos!! A sociedade impõe isso. Incute. Crianças não nascem racistas e preconceituosas.
Minhas filhas estouraram a bolha, na qual eu já estava querendo me libertar a um tempo. Não por elas sofrerem ou terem sofrido racismo, felizmente ainda não passei por esse tipo de situação. Mas sei que acontece todos os dias.
Dentre minhas andanças na luta e cultura negra, lendo, pesquisando, me calando, ouvindo, reconhecendo, abrindo mão, tenho descoberto um racismo estrutural enorme.
Sutilezas racistas do dia a dia que nem percebemos e estou abolindo da minha vida. Porque pra mim enquanto mulher é bem mais fácil reconhecer o machismo, mas enquanto mulher branca quase impossível fazer o mesmo sobre o racismo.
Onde quero chegar? Cada livro que leio com minhas filhas me atento a saber que história está sendo contada. Como irá chegar até elas. Comprei o “Peppa” e de primeira achei fofo, lúdico e “tudo bem”, apenas uma história de aceitação. Mas através do meu canal #muitoalemdecachos (gratidão) fui carinhosamente alertada sobre, como para os negros o racismo está sutilmente manifestado ali. E não!!! Talvez a autora nem tenha tido NENHUMA intenção, ela quis apenas passar a mensagem positiva de aceitação e não imposição de um “padrão”, mas ela é branca. Nossa visão é outra.
Retirei do meu vídeo e não recomendo a leitura.
Enfim. Cada dia descubro algo novo”.