Pai é impedido por hospital de ver parto da filha
Caso ocorreu na Sociedade Portuguesa de Beneficência de Campos, em Campos dos Goytacazes
O estudante Gabriel Alves foi impedido pelos funcionários do hospital de acompanhar o parto da namorada, a estudante Amanda Oliveira. Ele só conseguiu entrar para acompanhar a mulher no pós-parto com a ajuda da polícia. Caso ocorreu na terça-feira, 23, no hospital Sociedade Portuguesa de Beneficência, em Campos dos Goytacazes (RJ).
O ato dos funcionários do hospital foi contra a Lei do Acompanhante, de abril de 2005. Ela garante o direito da gestante de ter a companhia de alguém de sua escolha durante todo o período de pré-parto, parto e pós-parto.
Gabriel contou em entrevista ao portal da Revista Crescer que ao chegar no hospital com a namorada, perceberam que ela havia esquecido a carteira. Então, ele voltou para casa para pegar e ao retornar foi impedido de se encontrar com a namorada, que já estava em trabalho de parto. “Falaram que o pai não podia e que também não podia entrar acompanhante. Fiquei à deriva. Comecei a ficar preocupado porque ela já estava em trabalho de parto, com 5 cm de dilatação. Aí chamaram o segurança e fecharam a porta da maternidade”, disse Gabriel à Crescer.
Diante disso, Gabriel ligou para a polícia no 190. Na primeira ligação ele foi avisado que mandariam uma unidade ao local. Como ninguém chegou, ele ligou pela segunda vez. “O policial me falou o seguinte: ‘A gente não pode mandar uma viatura porque se a gente tiver que trazer o médico quem vai fazer o parto?’ Como assim? Eles estão descumprindo a lei e eu não vou poder ver o parto da minha filha? A polícia não vai intervir?”, contou Gabriel à Crescer.
“Tive de recorrer a métodos de ‘conhecido’ e levar uma unidade de polícia ao local e, só assim, chegando lá, permitiram a minha entrada”, contou Gabriel. Quando ele finalmente pode encontrar a namorada, a filha do casal, Safira, já havia nascido. E Amanda havia sofrido violência obstétrica durante o parto. Gabriel acredita que se estivesse presente poderia ter evitado que a companheira sofresse essas agressões. “Empurraram a barriga dela, fizeram manobras totalmente desnecessárias”, disse Gabriel.
O padrinho da filha de Gabriel filmou a maneira agressiva como o pai foi tratado por uma médica enquanto tentava fazer valer seu direito de estar com a companheira e a filha. No vídeo a médica diz: “Sabe por que você não pode? Porque o diretor não permite. Aqui no hospital não tem uma estrutura de cada ‘pacientezinho’ no seu box, direitinho. Todas as mulheres estão lá, amamentando, sem roupa, só por isso. Por respeito às outras mulheres. O senhor quer entrar, veio com policial às 3 h da manhã, o senhor, então… A gente não tem desconhecimento da lei. Querido, eu já sei qual é a lei”, continua ela, enquanto Gabriel lê o texto. “O hospital não tem essa estrutura, como nenhum outro hospital tem, essa estrutura de um box individual. A lei existe? Existe, a gente sabe que ela existe, mas o diretor não libera por causa disso. Isso foi explicado a esse senhor desde a hora que ele chegou aqui. A esposa dele inclusive já teve o bebê, está quieta lá no canto dela, fazendo o papel lindamente dela de mãe e o senhor está ‘aporrinhando’ desde que chegou aqui”.
Quando Gabriel finalmente conseguiu entrar e estar com a namorada, a médica ainda continuou a humilhação. “Era madrugada e ela acordou a todas as mulheres pra dizer que elas seriam constrangidas pela minha presença. E que se elas quisessem que aquilo virasse uma bagunça, que poderiam ligar para seus maridos também”, afirma o estudante.
No dia seguinte, ele e a namorada foram levados para uma sala separada das demais mulheres do pós-parto. No local, o banheiro era péssimo, até mesmo sem assento sanitário. “Como uma mulher que acabou de dar à luz vai usar um banheiro nessas condições?”, questiona Gabriel.
Gabriel e Amanda afirmaram que pretendem processar o Sociedade Portuguesa de Beneficência de Campos.
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