“Contrai Zika na gravidez e meu bebê nasceu com microcefalia”
Maria Vitória Ataídes, 18 anos, descobriu o verdadeiro amor ao se tornar mãe e agora luta para conseguir um bom tratamento para seu bebê
Os casos de microcefalia em decorrência do Zika vírus só aumentam no Brasil. Mas o que muitas vezes nos esquecemos de pensar é que atrás de cada novo caso há uma história. Há uma família que além de ver nascer o grande amor por um filho também teve que se deparar com o grande desafio de cuidar de um bebê especial. A seguir, veja o emocionante depoimento da mamãe Maria Vitória Ataídes que contraiu o Zika vírus durante a gestação e cujo filho, o pequeno Luiz Guilherme, nasceu com microcefalia:
Descoberta da gravidez
Luiz Guilherme é meu primeiro filho. A gravidez foi uma surpresa muito grande porque eu, que até então morava em Rio Verde – Goiás, tinha me mudado para Goiânia para fazer faculdade. Após dois meses em Goiânia minha menstruação atrasou aí eu fiz o exame de gravidez e deu negativo, mas dez dias depois eu fiz de novo e deu positivo! Eu levei um susto com a notícia! Mas logo liguei para minha tia, que considero minha mãe, e ela disse que me ajudaria. Então, voltei pra Rio Verde.
O Zika vírus
Quando estava com 18 semanas de gravidez eu comecei a ter sintomas de dengue. Senti muitas dores de cabeça, dores no corpo, fiquei bem mal mesmo. Fui para a maternidade e fiz um exame de sangue, que mostrou alterações, mas ainda não era certeza de ser dengue. Então, o médico pediu que eu voltasse lá após três dias para confirmar o diagnóstico. Mas após esse tempo eu já estava me sentindo bem, achei que tivesse me curado e por isso não fui na maternidade para confirmar o diagnóstico.
Na época, início do 2015, mal se falava no Zika vírus e muito menos na relação desta doença com a microcefalia. Neste momento, o Zika vírus sequer foi mencionado pelos médicos que me examinaram. Eu jamais imaginaria que o que eu tive poderia afetar meu bebê de qualquer forma.
A gravidez
Após a doença, minha gravidez correu mais ou menos bem, pois tive muitos enjoos. Além disso, com 22 semanas fiz um ultrassom que acusou um tamanho anormal da cabeça do meu bebê, o que me deixou preocupada a princípio. Mas ninguém me falou que poderia ser a microcefalia. Quatro médicos viram meu ultrassom e todos falaram que era normal, não havia problemas. Então, eu parei de me preocupar.
Mesmo diante de todos esses problemas, eu ficava cada vez mais apaixonada pelo meu bebê. Ver ele no ultrassom foi muito emocionante.
Nascimento
Meu filho, Luiz Guilherme, nasceu de parto normal e assim que o colocaram em cima de mim eu percebi que ele seria minha vida a partir daquele momento. Eu achei que estava tudo ótimo. Porém, na segunda vez que me trouxeram ele, eu percebi que a cabeça do meu bebê era pequena. E até questionei minha tia se ela tinha notado também. Mas como nenhum médico me disse que havia problemas, eu passei o dia achando que estava tudo bem.
Somente no dia seguinte, uma enfermeira chegou e me perguntou se a médica tinha me falado que meu bebê passaria por uma tomografia. E depois, a médica veio me falar sobre esse exame.
Passei cinco dias no hospital devido à tomografia e foi horrível porque estava muito preocupada com meu bebê. Após ver os resultados do exame, a médica me disse que o Luiz Guilherme havia nascido com uma má formação e precisaria fazer uma cirurgia. Ela disse que ele havia nascido com a moleira fechada. Fiquei desesperada!
Foi quando a assistente social do hospital me disse que conseguiu marcar uma consulta com um neuropediatra em Goiânia para meu bebê, mas a consulta custaria 400 reais! Minha tia falou para marcar e que nós daríamos um jeito de conseguir o dinheiro.
O diagnóstico da microcefalia
Com a ajuda de uma prima minha, eu consegui pagar a primeira consulta do Luiz Guilherme. A consulta ocorreu quando meu filho tinha 12 dias de vida. Vocês não imaginam a angustia que passei até esta consulta, sem saber direito o que meu filho tinha e achando que ele passaria por uma cirurgia…Foi horrível!
Após analisar os exames do meu filho e examiná-lo o neuropediatra disse que o que ele realmente tinha era microcefalia e que não seria necessário fazer uma cirurgia. Ele também disse que não poderia me garantir nada sobre como o Luiz Guilherme será no futuro e que para o meu filho ser uma criança normal, só por um milagre de Deus. Quando ele me disse isso eu paralisei!
Após isso, eu fiz exame de rubéola e outras doenças conhecidas por causar a microcefalia no bebê e tudo deu negativo, então o médico me disse que era praticamente certeza que o que eu tive na gestação foi o Zika vírus e que foi isso que causou a microcefalia no Luiz Guilherme.
Amor que move montanhas
Desde o nascimento do Luiz Guilherme, minha vida mudou completamente. Antes, eu queria um monte de coisas para mim, queria estudar, sair sempre bem arrumada, agora tudo que eu quero é conseguir um bom tratamento para meu bebê. Eu não preciso de riquezas, se eu ver ele bem, com saúde, eu não preciso de mais nada.
Eu fico muito preocupada com a saúde do meu bebê, pois ele precisa de muitos cuidados. Desde os dois meses ele passou a ter crises convulsivas, se ele tem qualquer coisa eu já corro pro hospital. Parei tudo para cuidar do meu filho, eu faço tudo por ele, tudo que ele vai fazer eu quero estar junto, eu não abro mão dele por nada.
O amor que sinto pelo meu filho é imenso. Acho que por ele ser especial parece que eu amo mais ainda, não tem como comparar com nada esse amor, eu fico até emocionada. Meu filho é tudo na minha vida. Eu estou disposta a tudo pela saúde dele, eu estou tentando uma vaga para ele em um ótimo hospital em Brasília e se precisar eu vou para lá sozinha com ele.
Mas até o momento a saúde pública não está nos dando nenhum apoio. Quando ele fez três meses uma mulher do governo veio me visitar e disse que meu filho receberia um acompanhamento do governo gratuitamente até os três anos de idade, mas até agora eles não voltaram a me contatar e meu filho não pode esperar todo esse tempo!
Como outras mães, eu procuro o melhor para a saúde do meu filho. Por isso, não tenho vergonha de pedir ajuda, meu filho precisa do melhor para ter uma boa qualidade de vida. Então, eu comecei junto com a minha tia e amigos a organizar rifas para conseguir pagar as próximas consultas do Luiz Guilherme no neuropediatra, já que cada consulta custa 370 reais e não temos condições de pagar.
Bebê alegre e muito esperto
Apesar do susto diante do que o médico disse sobre o futuro do meu bebê, eu resolvi procurar outras mães com filhos com microcefalia. E elas me disseram que em comparação com os filhos delas, Luiz Guilherme estava muito bem, até mesmo o médico disse na outra consulta que ele estava se desenvolvendo bem.
Luiz Guilherme é um amor, agora ele começou a rir, ele vira a cabecinha para um lado ou para o outro me procurando. Quando pegam ele no colo ele vira a cabecinha para ver quem é, ele não é enjoado, não chora à toa, nem quando toma a vacina ele fica enjoado, é o melhor bebê do mundo pra mim!
Nota da equipe BebêMamãe:
Doações: Quem quiser contribuir financeiramente para as próximas consultas do pequeno Luiz Guilherme pode realizar doações na conta da tia da Maria Vitória Ataídes, que é a seguinte:
- Nome: Letícia Ataídes Vales
- Banco: Caixa Econômica Federal
- Conta: 00100018562-7
- Agência: 0566
Saiba mais sobre microcefalia aqui e sobre Zika vírus aqui.