O motivo dessa mãe ter levado uma arma pra maternidade de SP é terrível

Bruna Stuppiello

Após sofrer violência obstétrica em seus três últimos partos, esta mãe acabou tendo uma atitude desesperada

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Infelizmente, os partos não foram bons momentos para a mãe Paula de Oliveira Pereira, 28 anos. Em entrevista concedida ao portal do Estadão, Paula, que tem filhos com idades entre 11 meses e 11 anos, relatou que sofreu violência em seus quatro partos que ocorreram em maternidades públicas de São Paulo. “Foram pesadelos”, disse ela.

De acordo com Paula, o pior de todos foi o seu terceiro parto que ocorreu em 2015. Ela ficou 14 horas em trabalho de parto e não pode ter um acompanhante, apesar de este ser um direito garantido pela lei.

Durante o parto, Paula pediu anestesia para aguentar as contrações, mas não foi atendida. Desorientada, caiu da maca, de barriga no chão. “Não sei como meu filho não morreu no tombo”, recordou-se Paula em entrevista ao portal Estadão.

Paula ainda teve que ouvir dos profissionais de saúde que seu bebê não nascia porque ela era “fraca” e “não fazia força suficiente”. “Daí a enfermeira subiu em cima de mim, para empurrar o bebê. Fiquei sem ar, minha barriga ficou toda roxa”, lembrou Paula emocionada.

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Então, em 2016, Paula engravidou novamente. Temendo sofrer outra violência, ela tinha um plano: juntar dinheiro para conseguir pagar por uma cesárea em um hospital particular.

Porém, o tempo passou e ela não conseguiu guardar dinheiro suficiente para a cirurgia. “O parto ia chegando, eu ia ficando cada vez mais angustiada. Não conseguia parar de pensar que ia passar mais uma vez por toda aquela violência”.

Foi então que Paula se desesperou e fez algo terrível. Sem que o marido ou sua mãe soubessem, ela comprou uma arma. “Eu planejava chegar na maternidade e pedir por uma cesárea. Se não fosse atendida, ia me matar. Sabia que não ia aguentar tudo aquilo de novo”, contou em entrevista ao portal do Estadão.

Então, quando a bolsa de Paula estourou e ela foi para o hospital, seu marido não sabia que ela levava uma pistola escondida. Mas assim que chegou ao hospital, o marido de Paula pediu que fosse feita uma cesárea, por causa do histórico traumático de partos que a esposa havia sofrido. Porém, o médico plantonista se negou.  “Ele explicou que meu último parto tinha sido complicado. Mas o médico gritou. Disse que quem mandava ali era ele, que paciente não tem escolha, quem escolhia o parto era o ele. Que se eu quisesse ir embora procurar outro hospital, podia ir”, contou Paula em entrevista ao portal do Estadão.

Desesperada e angustiada, Paula mandou uma mensagem para a mãe contando que estava na maternidade, tinha uma pistola e iria se matar. Foi quando a  mãe de Paula correu para o hospital e avisou que a filha estava armada. A polícia foi chamada e Paula passou por uma cesariana.

Porém, logo após o nascimento do bebê, Paula foi separada da filha e presa assim que recebeu alta, três dias após a cesárea. “Fui levada direto para a delegacia de Itapecerica e depois fui transferida para (o presídio de) Franco da Rocha, em um camburão, mesmo com a barriga cheia de pontos. Fiquei 21 dias presa, não pude conhecer meu filho e não consegui amamentar”.

Após este pesadelo, o advogado de Paula conseguiu que ela aguardasse o julgamento em liberdade. A audiência ocorreu em julho deste ano e a juíza concordou com a absolvição de Paula.  “Ela contou no depoimento que levou a arma para a maternidade para se matar se os médicos não fizessem a cesárea. A gente entendeu que ela queria se suicidar e suicídio não é crime”, explicou a promotora de Justiça de Itapecerica da Serra, Daniela Dermenjidian em entrevista ao portal Estadão.

A promotora também explicou para Paula que o que ela havia sofrido tem nome: violência obstétrica e a orientou buscar o Ministério Público. “Orientei para que denunciasse ao Ministério Público. Esse é nosso principal desafio, fazer com que as mulheres saibam que certos procedimentos no parto não são normais e precisam ser denunciados para que possamos agir”, explicou a promotora de Justiça em entrevista ao portal do Estadão. Saiba mais sobre o caso aqui.

A questão da violência obstétrica

Infelizmente, Paula não está sozinha quando se trata de sofrer violência obstétrica. Uma pesquisa da Fundação Perseu Abramo descobriu que uma em cada quatro mulheres brasileira sofre algum tipo de violência no parto.

A violência obstétrica pode ocorrer tanto no parto normal quanto na cesárea. Entenda seus direitos na hora do parto.

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