No RS, bebê nasce com o DNA de seus dois pais! Entenda:
A pequena Antonella veio ao mundo no último dia 17 de maio, por meio de um parto normal e humanizado. A bebê nasceu, justamente no Dia Mundial da Luta contra a LGBTfobia, realizando o grande sonho de seus pais. Curiosamente, a menina carrega o código genético de ambos! Ela é filha do fotógrafo Mikael Mielke Bitencourt e do gerente de vendas Jarbas Mielke Bitencourt. O casal que está junto há mais de uma década oficializou a união em 2022.
Para que pudessem formar sua linda família, eles precisaram lutar contra algumas barreiras na sociedade e lidar com seus próprios tabus. “A paternidade entrou na nossa vida com o Mika desde o início. Quando completamos um ou dois anos juntos, ele sempre falava do desejo de ser pai. Ele nunca me escondeu isso. Eu sou o mais velho da relação e sempre tive o cuidado de ser um pouco mais pé no chão”, explicou Jarbas.
Assim como grande parte dos casais homoafetivos, a adoção foi a primeira alternativa que veio à mente de Mikael e Jarbas. Eles então entraram para a fila em que aguardam até hoje. Neste meio tempo, souberam de uma jovem que seria mãe e pretendia doar seu neném. Ambos consultaram um advogado para entender se essa seria uma alternativa legalmente permitida e souberam da chamada “adoção assistida”.
“Entramos na vida dela [gestante] aos 7 meses de gravidez. Começamos um pré-natal atrasadíssimo. Resolvemos tudo. Fizemos um quarto pro bebê, chá de fraldas, convidamos os padrinhos… Nós já éramos pais a partir daquele momento. Mais para o final do ano, ela começou a nos bloquear. Entramos em parafuso! A criança está quase nascendo e a guria não fala mais conosco… Tivemos uma perda de um filho não existente. Entramos em depressão”, relembraram.
Pais por meio de uma barriga solidária
Ao ver o momento delicado que eles viviam, a comadre e amiga de longa data de Mikael e Jarbas tomou uma decisão que deixou todos surpresos. A comerciária Jéssica Konig é mãe solo de duas crianças – Pietro e Antônia, que são afilhados de Mikael e Jarbas. “Ela [Jéssica] chegou nos dizendo que iria realizar nosso sonho da paternidade. Só pensávamos: ‘como?’. Não podemos sofrer de novo, um segundo baque”, questionou o gerente de vendas.
Foi então que eles souberam sobre a opção de barriga solidária. Aqui no Brasil para que uma mulher possa gerar o filho de outra pessoa é necessário que ela seja parente de até quarto grau. Obrigatoriamente não pode existir nenhum incentivo financeiro, dentre outros requisitos. Como Jéssica não é familiar do casal, eles precisaram de uma autorização especial do Conselho Regional de Medicina.
Em seguida, eles tiveram que encontrar uma doadora de óvulos. A escolhida foi Marrienara Bortolanza, irmã mais nova de Mikael. Com isso, foram usados os espermatozoides de Jarbas para a formação dos embriões, conseguindo no total sete deles. Como preferiram evitar uma gestação gemelar, a opção foi a implantação de um embrião por vez. Para a alegria de todos, logo na 1ª tentativa o resultado foi positivo!
Uma bebê com o DNA dos dois pais
Desta forma, a filha do casal carrega o código genético de seus dois papais! Fato este que não costuma ser muito comum e que a tornou o 1º caso no Rio Grande do Sul. “Existem vários casais no Brasil que fizeram barriga solidária. Porém, que levantaram a bandeira e tem uma filha com o DNA dos dois pais só existem dois. Somos o 2º no país e o 1º na região Sul”, afirmou o gerente.
Os papais Jarbas e Mikael agora dividem sua história (e a realização do grande sonho conjunto) nas redes sociais. Eles mantêm um perfil com mais de 40 mil seguidores que agora acompanham o dia a dia com a pequena. A página se chama @2paisdaantonella. “Estamos vivendo o dia a dia da paternidade. Queremos mostrar para a sociedade que dois homens normais têm total condição de construir e conduzir sua família através de muito amor. Ela não tem mãe, mas tem dois pais!”, destacou Jarbas.
Tanto Jéssica (a barriga solidária) quanto Marrienara (tia e doadora dos óvulos) são bem presentes na vida da neném. “A Jéssica é muito próxima de nós, uma irmã. Foi muito bonito, vivemos uma história com ela de muita emoção. No início da gestação carregávamos ela como se fosse uma bonequinha”, relembrou o gerente de vendas. Ele também contou que a tia da pequena será a madrinha dela.
Desde os primeiros meses de gestação até a escolha do nome, tudo foi cercado de muito amor e significados especiais. “A Antônia, filha da Jéssica, é apaixonada por nós e nos trata como se fossemos pais dela. Por isso, pensei em Antonella. Falei para o Jarbas e ele achou bonito. Quando contei para a Jéssica ela disse: ‘aí guri não fala isso! Ia ser o nome da Antônia’. Foi aí que decidimos”, garantiu Mikael. Antonella significa “inestimável pequena valiosa” – justamente o que ela representa aos papais.